quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Capítulo 06: O homem das asas douradas

SEGUNDA PARTE
REVELAÇÕES

O PORTÃO SAGRADO DO SANTUÁRIO HAVIA TOMBADO.

Aquele não era um portão comum. Não apenas devido o seu grande porte e estrutura, mas principalmente pelo que representava. Para os cavaleiros de Atena, ele era um símbolo da integridade e resistência do Santuário contra as forças que conspiram contra a humanidade. Entretanto, agora não era mais que madeira retorcida e queimada.

Uma mensagem ardia no portão com brasas azuladas, dividida entre as duas folhas que o formava. Juntando as partes apenas com a força de seu cosmo, lorde Ícaros de Sagitário observa atentamente as palavras escritas em seu dialeto, o grego. Elas diziam:

Εγκαταλείψτε την ελπίδα υπάλληλοι της Αθηνάς
Percam a esperança, servos de Atena.

I, Άρη, σας δίνω αυτήν την ειδοποίηση
Eu, Ares, vos dou este aviso:

Η Ελλάδα θα είναι μου
A Grécia será minha!

Μπορείτε θα πληρώσετε για τα εγκλήματα κυρία σας
Vós pagareis pelos crimes de sua Senhora.

Σπάρτη κραυγές εκδίκηση και αίμα
Esparta clama vingança e sangue!

Ícaros ficou confuso. Não entendo... O que fizemos? Entendo o desejo de Ares pela guerra e sangue, mas não me lembro de nada que tenha sido causado à Esparta da nossa parte. O que o deus da guerra quis dizer com vingança?

Sua mente se perdeu analisando a situação. Aquele invasor não foi escolhido à toa para ser o mensageiro. Creio que era sua intenção chamar a atenção de um cavaleiro de ouro.

Ele observou o caos ao redor. Ninguém morreu, mas temos muitos feridos. Alguns casos mais graves, mas ainda sim… Ele tinha poder para matar qualquer cavaleiro de prata que desejasse, e seria uma luta difícil até para mim. Por que ser apenas o mensageiro e não iniciar logo a guerra? Mesmo que apenas para intimidar.

Ele suspirou ao ver o estado dos soldados. Não estavam apenas feridos, mas também abalados. Pensando bem, todo este estrago foi intimidante o suficiente. Isso demonstra o potencial de nosso inimigo. Será que…? Não creio que seja.

Olhando os soldados que se levantavam aos poucos, procurou por um cavaleiro ou pelo capitão da guarda, mas não os encontrou. Estava pensando em chamar alguém, mas não havia superiores no local. Não até o momento. Vinha chegando, descendo pela avenida principal que levava ao Portão Sagrado, um cavaleiro de prata trajando sua armadura. Ele era um pouco baixo e forte, e sua barba estava por fazer. Sua armadura brilhava num leve tom esverdeado ao reluzir das luzes fracas, tendo um aspecto rústico e cobrindo-lhe todo o corpo. Estava sonolento, mas olhava tudo apreensivo, pois não tinha certeza do que houve ou o que fazer, até que avistou a aproximação de Ícaros.

– Meu senhor. – fez uma reverência educada ao lorde – O que houve? Acordei ao sentir um cosmo terrível. Parecia pertencer a alguém realmente perigoso. O senhor o derrotou?

– Não, Portos de Hércules. Não o derrotei. Ele fugiu e deixou para trás uma mensagem. Cavaleiro, monitore e auxilie os soldados. Estou lhe passando o comando. Creio que o inimigo não retornará esta noite. Necessito encontrar-me urgentemente com o Grande Mestre – e começou a andar apressadamente rumo a Praça do Relógio Zodiacal, de onde seguiria para as Doze Casas.

– Mas, senhor! Acordar o Grande Mestre há essa hora? Seria considerado até crime contra sua santidade...

– Não se preocupe comigo, Portos. – falou amavelmente – Sei o que faço. Além disso, já o havia acordado mais cedo…

Seguindo a avenida, ele avistou outros cavaleiros de bronze se aproximando para ajudar os feridos. Muitas pessoas haviam sofrido com o ataque. Três casas juntas ao Portão estavam prestes a desmoronar. Havia muito a ser feito, pois a entrada do Santuário tinha se tornado uma recordação da maestria e malevolência de Ares, senhor da Guerra. Aquela cicatriz demoraria a sarar.

– Tragam o senhor de Taças! – gritavam alguns que desciam em direção ao Portão.

Chegando a paz que havia na Praça do Relógio Zodiacal, Ícaros observou que um homem não estava coerente naquele ambiente. Ele corria em direção as Doze Casas, de maneira desesperada. Havia algo de familiar no cosmo que emanava daquele homem. Era um cosmo ainda em treinamento, pouco aflorado, mas exausto. Ícaros pensou até que lembrou onde havia o sentido antes. Pertencia ao aprendiz do cavaleiro de bronze que estava lutando no cemitério.

– Ei, você! – gritou para o rapaz que já estava quase sumindo de vista – Jovem aprendiz, espere!

O homem parou com o pé direito sobre o primeiro degrau da escadaria que levava até as Casas.

– Meu senhor! – estava exausto, quase não respirava direito, e veio em direção de Ícaros – Meu senhor! Imploro por sua ajuda.

– O que foi? Onde está o seu mestre? – perguntou tentando tranquilizá-lo.

– Ele… ele está lutando contra uma invasora, meu senhor. No cemitério dos cavaleiros.

– Sim, senti a luta há pouco antes de ir ao encontro de um segundo invasor. O que houve? Não sinto mais a fúria dos cosmos de nenhum dos combatentes.

– O quê!? Meu mestre precisa de mim… – e saiu correndo de volta ao cemitério.

Percebendo que aquela situação era mais urgente, seguiu o aprendiz em direção ao cemitério. Geord implorava que nada de mal tivesse acontecido. Meu mestre estava perdendo a luta. Que ele esteja bem! Por favor, Atena!

Percorrendo as ruas desertas, os dois correram rapidamente. Chegaram ao cemitério rápido e seguiram a procura do cavaleiro de Cão Menor. Ícaros tentou encontrá-lo através do cosmo, mas a sua presença estava muito fraca e ainda havia energia remanescente da batalha circundando todo o local. Expandindo seus sentidos, Ícaros localizou uma mão ensanguentada sobre uma lápide ao longe.

– Ali! – apontou – Vamos!

– Mestre! – gritava Geord – Mestre! Por favor, minha Senhora. Mestre!

Quando chegaram ao local, avistaram o cavaleiro de bronze. Estava em péssimo estado e aparentava não respirar. Observando como o sangue havia escorrido de seu corpo, Ícaros concluiu que ele recebera ataques internos graves, pois não havia hematomas em nenhum dos ferimentos. O lorde dourado precisava agir rápido, pois a vida de Orrin dependia dele.

– Ele vai ficar bem? – perguntou choramingando o grandalhão do Geord.

– Vai, vai sim. Com os tratamentos médicos adequados. Mas ele perdeu muito sangue. Precisa de ajuda imediata. Diga: você viu quem ele estava enfrentando?

– Sim. Era uma amazona sem máscara. Sua armadura lembrava um morcego. Mas… – olhou para o estado de Orrin, inconsolável.

– Sim, eu sei, o seu mestre. Pois bem, tenho que acertar seus pontos vitais para estancar o sangramento, senão ele morrerá antes de ser tratado – levantando, liberou parte de seu cosmo, fazendo a armadura de bronze desvestir seu cavaleiro e ficar montada ao lado de Geord, formando um pequeno cão pastor. – Agora, a constelação de Cão Menor tem como pontos vitais…

Ícaros aplicou dois golpes precisos no cavaleiro desacordado usando apenas um dedo, sendo um no ombro esquerdo e o outro na coxa direita, perfurando a carne. Sentindo os golpes, Orrin se contorceu de dor, mas os seus ferimentos param de sangrar.

– Pronto. Agora vamos levá-lo para o senhor de Taças. Ele deve estar ocupado com os feridos da entrada, mas esse caso aqui é mais grave e urgente.

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