terça-feira, 6 de outubro de 2015

Capítulo 05: O mensageiro da destruição

A SITUAÇÃO ESTAVA CRÍTICA.
Orrin não sabia mais o que fazer. Seu corpo estava doendo e os ferimentos aumentaram o seu fluxo sanguíneo. Até seus olhos lacrimejavam sangue. Limpando como pôde o rosto ensanguentado, levantou-se com dificuldade e tentou ficar em posição de combate. Estava difícil enxergar agora. Os seus sentidos foram terrivelmente afetados e seu equilíbrio vacilava. Sua vida estava por um fio, e a amazona caminhava em sua direção sensualmente com as asas a protegendo.

– Mestre!

Surpreso, Orrin olhou para o lado e avistou Geord pronto para o combate. Sem armadura, ele não teria a menor chance de revidar o que fosse. Mesmo sendo poderoso com o cosmo, o corpo dos cavaleiros continua sendo tão frágil quanto o de qualquer humano, cabendo à armadura a função de protegê-los. Sem uma armadura, Geord morreria ao primeiro ataque.

– Geord, não! Vá embora, agora! Essa mulher é diferente dos outros cavaleiros de bronze. É mais poderosa do que eu imaginava. Estou pagando pelo meu péssimo julgamento.

– Mas mestre, o senhor precisa…

– Eu sei, por isso vá e peça reforço. Não podemos permitir que invasores prossigam profanando o Santuário. Vá!

– Certo mestre.

Orrin sabia que a amazona não deixaria isso ocorrer. Pondo-se completamente de pé, ainda que a muito custo, posicionou-se entre ela e Geord, que se afastava sem olhar para trás. Entretanto, para a surpresa do cavaleiro, ela parou de andar e nada fez até o aprendiz se afastar. Não tentou atacá-lo. O que será que essa mulher quer afinal? Ela invade o santuário por um local pouco protegido, mas não avança quando tem a oportunidade. Queria apenas lutar com alguém?

A amazona permanecia tranquila, vendo o jovem aprendiz se afastar e com as asas envoltas ao corpo. Minha missão está quase completa. Poderei partir sem ter que matar ninguém, por enquanto. A guerra apenas está começando. Ela sorriu maliciosamente, quase insanamente.

*     *     *

COM UM PODER DEVASTADOR, o homem misterioso destruiu os Portões Sagrados do Santuário e todos os soldados que estavam de vigia. Não matara ninguém até então, mas viu que a sua missão estava preste a ser cumprida com sucesso. Sua encarregada havia desviado a atenção dos cavaleiros pelo cosmo e ele poderia agir livremente agora, ainda que tivesse que se apressar.

Um batalhão de soldados mal preparados se apressou para o portão. Estavam sob o ataque de apenas um inimigo, mas poderoso o bastante para derrubar os portões. Com as lanças em punho, vinte homens se posicionaram a frente do inimigo, observando-o alertas.

– Vermes! – falou o invasor – Vocês acham que as suas lanças podem me deter? Irei puni-los por acharem dignos de me enfrentar.

Concentrando apenas uma fração de seu cosmo, o homem encapuzado abaixou-se lentamente, flexionando os joelhos. Seu manto sacudia violentamente quanto mais se concentrava. O seu corpo começou a brilhar numa tonalidade azulada para o ébano. Era um cosmo terrível.

– FOBOS HURRICANE ! – amaldiçoou a todos.

Uma fenda negra surgiu no espaço. Como uma ventania que tragava a todos para uma dimensão de trevas, o ataque sombrio carregou mais que soldados. As estruturas próximas começaram a perder sua estabilidade rapidamente e um terrível furacão de ébano surgiu no local, derrotando todos de uma única vez. Os soldados caíram inconscientes no chão, fazendo o invasor sorrir sob o capuz.

Vinda do céu, o lampejo inesperado de uma flecha dourada quase o acertou. Surpreso, o invasor deu um largo salto para trás, pousando delicadamente sobre os portões derrubados. Observou o brilho de esperança que cobriu o Santuário, sob a forma de lorde Ícaros de Sagitário, um dos doze cavaleiros de ouro de Atena, seus maiores campeões. O lorde dourado desceu do céu por onde voava com suas longas asas celestiais, caindo metros antes do homem. Sua armadura era a visão de um anjo. Olhou para o invasor e sorriu.

– Somente os covardes escondem seus rostos para a morte e eu sou a sua. Identifique-se invasor!

– No momento, cavaleiro dourado, não importa quem eu sou, mas o que vim fazer aqui. Deixo esta mensagem para ti – fazendo uma reverência para o portão tombado onde estava se equilibrando –, com a cortesia do Grande Senhor Ares.

– O quê?

O invasor liberou novamente sua energia de ébano, mas dessa vez não atacou ninguém. Ventos negros muito fortes circundaram o homem encapuzado, fazendo com que Ícaros tivesse que proteger o rosto para não ficar cego com a poeira que foi levantada. Os ventos cobriram o homem totalmente e o fizeram desaparecer, assim como o seu cosmo, deixando o cavaleiro de ouro surpreso. Então, Ícaros notou algo. Olhando para o portão tombado, ele pôde observar que havia uma mensagem entalhada a fogo.

- Mas, o que é isso?

*     *     *

ESSE É O SINAL. Abrindo as asas ameaçadoramente, Orrin pensou que a amazona fosse atacá-lo. Entretanto, ela apenas alçou voo e ficou parada no ar, observando-o.

– Preciso partir, cãozinho. Não te matarei agora, mas fique avisado: na próxima vez que nos encontrarmos será a última. Não morra até lá – fez um gesto como se arremesse um beijo para o cavaleiro e desapareceu na noite.

– Não, espere! – gritou para noite.

Orrin estava sozinho no cemitério. Sentiu que aquela não seria a última vez que se encontrariam. A paz que o cercava finalmente o afetou, fazendo-o cair de joelhos devido o peso de seus ferimentos. Entorpecido pela dor, lembrou-se dos lábios puros de sua amada e sua voz suave. Então cantarolou em sua mente uma velha canção, perdendo lentamente a consciência.

Anjo meu que oras por mim, não me deixai.
Preciso rever aquele sorriso uma vez mais.

E caiu desacordado.

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