quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Capítulo 16: O Demônio que se torna Anjo

QUARTA PARTE
VINGANÇA E SACRIFÍCIO

SILÊNCIO.

Apenas o som de água e areia retornando ao chão era audível, e uma enorme nuvem de poeira pairava no local da explosão. Serafim procurou por Orrin sem sair de onde estava, sua esperança a um fio. Quando a nuvem baixou o suficiente, um contorno familiar apareceu de dentro da poeira remanescente. Sem se mover, Orrin ainda estava em sua posição de ataque, desnorteado. Deixando a postura lentamente, analisou o que havia acontecido. Todo o seu corpo estava em péssimo estado e a sua armadura havia sido destruída em vários pontos. Metros a sua frente, após uma vala rasa aberta na areia, encontrava-se no chão uma quase inconsciente Adrienne. Não havia mais nenhuma armadura de morcego em seu corpo, apenas pedaços da roupa que usava por baixo da armadura. Muito ferida, ela olhava com dificuldade para o céu estrelado. A lua acariciava o seu belo rosto ferido.

Orrin não acreditava que havia terminado assim. Vendo o estado no qual se encontrava Adrienne, ele sentiu uma dor horrível em sua alma que superava a física. Não sentiu que havia recuperado sua honra, mas sim que havia perdido algo maior. Havia perdido parte de seu ser. Agora era sua alma que se encontrava ferida.

– Li… Liath…, meu querido… Liath… – Adrienne falava com dificuldade, tentando erguer seu braço direito para alcançar a Lua – Eu fracassei… desculpe meu amor… eu… fracassei…

Serafim chegou até o cavaleiro a tempo de ampará-lo. Sem forças e muito ferido, Orrin lutava para ficar acordado. Tentou andar em direção a Adrienne, mesmo sendo segurado por Serafim. Ele não o deixou prosseguir.

– Deixe-me ir até lá – implorava Orrin.

– Não. – falava tranquilamente, mas com melancolia na voz – Não há nada que possa fazer, nem mesmo eu. Ela está ferida além da recuperação. Acalme-se Orrin. Esta foi uma luta impressionante. Nenhum cavaleiro de bronze poderia resistir a um ataque desse nível. Suas armaduras são a prova maior do que digo.

Orrin apenas caiu no chão, de joelhos. Seu maior desejo era derrotar Adrienne, mas não pensava que a queria tanto viva. Não sabia o porquê, mas não desejava que ela morresse-se, ainda mais pelas suas mãos. Sua vontade de se manter vivo e de se vingar era tão alta que não mediu esforços para derrotá-la. Somente no fim percebeu que havia algo mais para com o que lutar. Infelizmente o golpe já havia sido aplicado. Não era esse o final que desejava. Não pensava que veria sofrimento e que passaria por ele.

– Orrin. Não há luta sem dor. Muitos são os guerreiros que apenas pensam na recompensa em matar alguém, mas não há recompensa na morte. Cavaleiros de verdade sabem reconhecer os esforços de seus adversários. Vocês lutaram com honra, e não há morte melhor que essa para um guerreiro. Infelizmente o caso dela é irreversível até para mim. Perdoe-me.

– O-Orrin – Adrienne tentava falar de onde estava. Prestando atenção, Serafim e Orrin olharam para a brava amazona que ainda resistia – Obrigada!

Seu lindo rosto marcado pelo combate tombou delicadamente de lado, com um último sorriso fraco. Uma lágrima solitária escorreu por seu rosto até cair na areia. A cena fez o coração de Orrin ficar ainda mais angustiado. Serafim apenas abaixou o rosto e fez uma reverência a Adrienne. Orrin tentou acompanhar o movimento.

De repente, a luz do luar e das estrelas sumiu do céu. A noite se tornou ainda mais escura. Serafim e Orrin notaram a mudança brusca do ambiente. Surpresos, acompanharam a chegada de um cosmo estranho no local. Uma presença enorme e devastadora, cheia de fúria e escuridão. Seu poder era comparável aos cavaleiros de ouro ou superior. Procurando pelo portador de tal Cosmo capaz de roubar até a luz dos astros, ambos perceberam uma presença ao lado de Adrienne, falecida.

Uma forma estranha começou a brotar na areia, ao lado da amazona. Parecia uma energia feita puramente de trevas. Ela se intensificou e esticou até ganhar as formas características de um humano. Com seu surgimento completo, um homem loiro tomou forma, vestindo uma lustrosa armadura completa azul-safira e com uma espada embainhada na altura da cintura. Caindo de joelhos ao lado de Adrienne, seu rosto incrédulo deixou que escapassem algumas lágrimas. Pegando-a no colo, ajeitou carinhosamente seu cabelo desgrenhado. Não podendo mais conter a tristeza, desatou-se a chorar, encostando o seu rosto ao dela. Sussurrava para a amazona palavras de amor eterno.

Serafim não acreditava em quem estava ali. Sabia muito bem quem era aquele homem. Um imenso temor começou a brotar em sua alma, que era cada vez mais esmagada pela terrível presença daquele ser. Orrin também sentia o imenso poder do homem, mas não o acha tão terrível quanto Serafim sabia que ele era. Havia um medo desconhecido em seu coração, mas conseguia combatê-lo com sua ignorância. Percebendo o terror nos olhos do companheiro, ele começou a ficar inquieto.

– O que foi Serafim? Quem é esse homem afinal?

– Ele é Liath de Fobos, General do Esquadrão da Derrota das Tropas de Ares. O seu poder é comparado ao dos mais poderosos cavaleiros de ouro, mas seu Cosmo é movido pela mais pura treva. Dizem que seu poder é tanto maior quanto as trevas que se acumulem em seu ser. E pelo que me parece, você matou a amada dele.

As lágrimas de Liath pararam. Repousando delicadamente Adrienne no chão, seu olhar se direcionou para os dois cavaleiros que ainda estavam ali. Olhando mais ao longe, viu o corpo falecido de seu guerreiro de Tubarão. Enchendo-se ainda mais de fúria, Liath pôs-se de pé. Seu cosmo se intensificava cada vez mais. Sua fúria era tamanha que a cosmo-energia que escapava ao redor do seu corpo chicoteava a areia com ferocidade.

– Agora, digam. – a sua voz ficava ainda mais ameaçadora a cada palavra – Quem a matou? Respondam!

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